quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Volta




Se nos altos montes coroados de ausencia o eco repete seu nome, meu amor,
estarei eu, atravessando as fronteiras dos meus sonhos para te buscar.
Se nesse caminho tortuoso encherem seus olhos de mar, amor meu,
declama minha poesia ao infinito,
junta seu pranto ao mistério da vida,
e mistura nosso encanto no rosto da lua.
Assim, minha vida, o que for meu te leva paz e o que for seu me traz alegria.
E que nosso canto, cosntruido a cada dia e esculpido pela espera,
se torne senhor de nossos territórios virgens
e se costure entre seu lábio e meu quadril.
Onde tudo nessa terra é nosso
onde navego nua por seus olhos cafés
mergulhando segundos eternos que passam lentos
e mais tantos outros que tornam lenda nossa espera
concluída numa esfera de sentimento.
Eu e você somos tudo e todos
onde a vida começa pelo incremento do capricho do tempo.
Estarei eu, entre a melodia e a vírgula
presa em prosa aguardando sua chegada
amor meu, meu amor
nessa longa estrada tudo que é meu é tão seu
tudo começa agora, na mesma hora que se demora
todo o inicio sem pressa ou pausa ja começou.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Refluxos e reflexões

É como se todas as minhas crenças e valores fossem solúveis e jogadas sem cuidado num copo d’água……
Ainda no canto do copo, ao lado do fundo, ficaram os sonhos.
E ainda canto fazendo rodamoinho em água morna, acostumada a correr sempre no mesmo sentido. Pois como? Se pra mim, não faz nenhum sentido deixar-me levar.
Se misturo minha essência nessa indecência moral, sinto-me afogada por meus próprios ideais e mato minhas idéias, minha criação e minha reação.
Não acomodar-me com o igual e a transparência da minha água que, correndo contra o fluxo cuspido do frio cotidiano moderno me induz a remar contra a maré. E me seduz a amar, a derramar o que ainda acredito que nunca deixou de ser e ainda é.
(desabafo)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente. 

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido. 

Afinidade é não haver tempo mediando a vida. 
É uma vitória do adivinhado sobre o real. 
Do subjetivo para o objetivo. 
Do permanente sobre o passageiro. 
Do básico sobre o superficial. 
Ter afinidade é muito raro. 

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. 
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. 
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade. 

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. 
É ficar conversando sem trocar palavras. 
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento. 

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. 
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. 
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios. 

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. 
É olhar e perceber. É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar. 

Afinidade é jamais sentir por. 
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. 
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. 
Compreende sem ocupar o lugar do outro. 
Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar. 

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. 
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidade vividas. 

Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. 
Porque tempo e separação nunca existiram. 
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. 
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro sob a forma ampliada do eu individual aprimorado." 

Artur da Távola 


É meio-dia no meu peito.
E o sol do seu sorriso faz-me inteira.
Faz de mim uma flecha certeira em direção ao alvo em movimento.
Passa o dia todo com passos lentos
Passo todo dia esperando sua chegada
e no aconchego da rotina aprendo a aguardar sua estada
és feito de sonhos guardados, esperanças perdidas, suspiros empoeirados
que, na estrada da vida, de tão altos e quentes, brincaram de me iludir ao longo dos anos e dos enganos
que, de tão esperados, fingiam ser conto de fadas, usando máscaras disfarçadas
adormecendo meu desejo lucido e insano
Eu era uma flor no seu jardim de pensamento
ja existia sem rosto, sem dono, sem ponto e sem acento
um girassol a buscar calor nos braços do tempo
e, de tocar o intocável fomos costurando nosso canto
como se, no fechar dos olhos, nosso encontro misturado ao infinito
narrasse um conto em realidade, tão sagrado e tão bonito
imortalizando nossas vidas em rima, em melodia
fazendo-me sua obra acababa e uma afinada poesia
O sol invade então a extensão de meus dedos, que,
sutilmente acariciam a face das estrelas
o sol agora habita meus lábios e sua musica,que ainda sem estrofe
ja começa a trilhar um norte atraves de meu rosto,
ja encerra todo meu universo esculpido de realidade,
ja mascara minha idade quando brinco de ser menina diante de força tamanha, estranha e tão conhecida.
sinto-me plena de mim, sentada a beira da minha esquina onde esperava sua chegada
É meia-noite na minha espera
somos agora noite e dia da mesma verdade
metade do mesmo ser espalhados em esperança
a semelhança e a certeza misturadas em vontade
a sempre sensação de sanidade ao sentir que...
...eu ja te conhecia, só não sabia seu nome.




segunda-feira, 4 de outubro de 2010

“O Arco e a Lira” de Octavio Paz.


INTRODUÇÃO
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não-dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Idéia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular c minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!

Como não reconhecer em cada uma dessas fórmulas o poeta que as justifica e que, ao encarná-las, lhes dá vida? Expressões de algo vivido e padecido, não temos outro remédio senão aderirmos a elas - condenados a abandonar a primeira pela segunda e esta pela seguinte. Sua própria autenticidade mostra que a experiência que justifica cada um desses conceitos os transcende. Será preciso, portanto, interrogar os testemunhos diretos da experiência poética. A unidade da poesia só pode ser apreendida através do trato desnudo com o poema.

Um poema é uma obra. A poesia se polariza, se congrega c se isola num produto humano: quadro, canção, tragédia. O poético é poesia em estado amorfo; o poema é criação, poesia que se ergue. Só no poema a poesia se recolhe e se revela plenamente. É lícito perguntar ao poema pelo ser da poesia, se deixamos de concebê-lo como uma forma capaz de se encher com qualquer conteúdo. O poema não é uma forma literária, mas o lugar de encontro entre a poesia e o homem.

O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou emite poesia. Forma e substância são a mesma coisa. Mal desviamos os olhos do poético para fixá-los no poema, aparece-nos a multiplicidade de formas que assume esse ser que pensávamos único. Como nos apoderarmos da poesia se cada poema se mostra como algo diferente e irredutível?

A forma mais alta da prosa é o discurso, no sentido estrito dessa palavra. No discurso as palavras aspiram a se constituir em significado unívoco. Esse trabalho implica reflexão e análise. Ao mesmo tempo introduz um ideal inatingível, já que a palavra se nega a ser mero conceito, significado sem outra coisa mais. Cada palavra – à parte suas propriedades físicas - encerra uma pluralidade de sentidos. Assim, a atividade do prosador se exerce contra a natureza própria da palavra.

A palavra, finalmente em liberdade, mostra todas as suas entranhas, todos os seus sentidos e alusões, como um fruto maduro ou como um foguete no momento de explodir no céu. O poeta põe em liberdade sua matéria. O prosador aprisiona-a.

O poema, sem deixar de ser palavra e história, transcende a história. Sob condição de examinar com mais atenção em que consiste esse ultrapassar a história, podemos concluir que a plural idade de poemas não nega, antes afirma, a unidade da poesia.

Cada poema é único. Em cada obra lateja, com maior ou menor intensidade, toda a poesia. Portanto, a leitura de um só poema nos revelará, com maior certeza do que qualquer investigação histórica ou filológica, o que é a poesia. Mas a experiência do poema - sua recriação através da leitura ou da recitação - também ostenta uma desconcertante pluralidade e heterogenia. Quase sempre a leitura se apresenta como a revelação de algo alheio à poesia propriamente dita.

Para alguns o poema é a experiência do abandono; para outros, do rigor. Cada leitor procura algo no poema. E não é insólito que o encontre: já o trazia dentro de si.

Todos já fomos crianças. Todos já amamos. O amor é um estado de reunião e participação aberto aos homens: no ato amoroso a consciência é como a onda que, vencido o obstáculo, antes de se desmanchar, ergue-se numa plenitude na qual tudo - forma e movimento, impulso para cima e força da gravidade - alcança um equilíbrio sem apoio, sustentado em si mesmo. Quietude do movimento. E do mesmo modo que através de um corpo amado entrevemos uma vida mais plena, mais vida que a vida, através do poema vislumbramos o raio fixo da poesia. Esse instante contém todos os instantes. Sem deixar de fluir, o tempo se detém, repleto de si.

Objeto magnético, secreto lugar de encontro de forças contrárias, graças ao poema podemos chegar à experiência poética. O poema é uma possibilidade aberta a todos os homens, qualquer que seja seu temperamento, seu ânimo ou sua disposição. No entanto, o poema não é senão isto: possibilidade, algo que só se anima ao contacto dc um leitor ou de um ouvinte. Há uma característica comum a todos os poemas, sem a qual nunca seriam poesia: a participação. Cada vez que o leitor revive realmente o poema, atinge um estado que podemos, na verdade, chamar de poético. A experiência pode adotar esta ou aquela forma, mas é sempre um ir além de si, um romper os muros temporais, para ser outro. Tal como a criação poética, a experiência do poema se dá na história, é história e, ao mesmo tempo, nega a história.

O poema é mediação: graças a ele, o tempo original, pai dos tempos, encarna-se num momento. A sucessão se converte em presente puro, manancial que se alimenta a si próprio e transmuta o homem. A leitura do poema mostra grande semelhança com a criação poética. O poeta cria imagens, poemas; o poema faz do leitor imagem, poesia.

E ainda guardamos viva a sensação de alguns minutos de tal maneira plenos que se transformaram em tempo transbordado, maré alta que rompeu os diques da sucessão temporal. Pois o poema é via de acesso ao tempo puro, imersão nas águas originais da existência. A poesia não é nada senão tempo, ritmo perpetuamente criador.

“O Arco e a Lira” de Octavio Paz. Tradução de Olga Savary. Ed. Nova Fronteira, RJ, 1982. (Coleção Logos)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

..há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio,sou mais do que eu, quase normalmente - tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuaçãode meu começo......a única verdade é que vivo.Sinceramente, eu vivo.Quem sou? Bem, isso já é demais..."Clarice Lispector


 ‎"Quando te vi amei-te já muito antes:Tornei a achar-te quando te encontrei. Nasci para ti antes de haver o mundo.Não há coisa feliz ou hora alegre que eu tenha tido pela vida afora, que o não fosse porque te previa... "Fernando Pessoa


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

asas silenciosas


Vivo entre a linha tenue que separa a loucura da sanidade. Minhas doses de loucura e meus surtos de lucidez são vozes que brigam constantemente em meu ombro, sussurrando no meu ouvido solução. Adormeci durante anos minha ansia de fazer-me eu. Entreguei-me à armadilha do descontentamento viciado de estar presa a uma situação. Fui incoerente na minha decisão. Amarrei-me à beira da cama, deitando meus sonhos, enterrando pedaços de esperança mofada que ainda lutavam em resistir dentro do meu existir. Deixei de insistir. E por muitas vezes, abandonada de todas minhas crenças, matei os suspiros e assassinei minha inspiração. Prostitui minha essência, numa tentativa mórbida de desistência anunciada. Meu cheiro era de terra molhada pela furia do céu e em meus olhos o amanha desviava meu curso numa tempestade de desilusão.
Descobri, mergulhando nas profundezas do meu ser, que navegar-nos é preciso. Que somente explorando nossos mais íntimos anseios e necessidades ganhamos o poder de simplesmente existir da forma mais plena, serena, cheia. E para receber-te, antes necessitava chegar em mim. Mergulhei em cada pedaço de minha alma, numa busca incessante e numa sede interminável de decifrar meu nome.
Enfim, achei-me.
Achei-me em meia parte, resolvendo metade do que meu olhar incansavelmente ainda procurava achar. Reconstruí-me totalmente quando o vi caminhando em minha direção. Lentamente ele foi chamando minha atenção, roubando-me a cada verso numa gloriosa sensação de milagre. O meu sagrado começava a tomar forma, ja tinha som e gosto. E ao contrario do proposto pelo destino, nosso encontro teve um rosto muito definido. O rosto em forma de sorrisos que me ressuscitaram de todas as angustias que ja dominavam minha vida. Pelo rosto do tempo que andava perdido, brincando de ladrão, de roubar meu sentimento, de violentar minha intenção de ser feito de nuvens, de conto de fadas, de encantamento.
Fiz-me por inteiro quando cheguei a mim deixando-te invadir-me totalmente de maneira furiosa e doce. E todo meu sentimento de ser a bailarina da caixinha e musica que andava guardada cheia de poeira se transformou no infinito instante que meu olhar tocou seus labios, que seus labios tocaram meu coração. E cresci me enchi novamente com o tocar da musica que lentamente me convidava a dançar. Por suas mãos extendidas entendi o quanto te esperei. Por seu olhar cativante renasci minha paz, antes tao itinerante. Por seu abraço compreendi o significado da palavra doação. Pelo seu dom de iluminar vidas e dançar amor, enchi meu peito de inspiração. Respirei cada parte da sua arte, transformando-me em gotas que necessitavam transpirar-te para possuir-me outra vez. Faço de ti asas silenciosas que me convidaram a um passeio infinito em meu ser. Faço de ti meu amor além meu amado, meu milagre, minha salvação.

domingo, 5 de setembro de 2010

conspiração | inspiração...



http://www.youtube.com/watch?v=8TaFmlQxzLU

"Devo compararte a um dia de verão?
És por certo mais bela e mais amena
O vento em maio sacode as flores em botão
E a época do verão é bem pequena.

As vezes em calor e brilho o Sol se excede
Mas até o brilho do sol perde a beleza
E todo belo da beleza um dia se despede
Por acaso ou pelo curso das leis da natureza.

Mas teu eterno verão não vai findar
E a beleza que tens não perderás
Nem de ofuscar-te a morte pode ser gabar

Pois nesta estrofe eterna com o tempo crescerás.
Enquanto o homem respirar ou olhos possam ver
Meus versos vão durar e te farão viver."


William Shakespeare - soneto 18

segunda-feira, 30 de agosto de 2010



Cancelaram a primavera.

Ela andava meio desanimada com a antecipação do outono, que, sem cerimônia, se apoderou das flores ressecando suas pétalas de cristal. Decepcionou-se com tudo que entrou no meio, seja um mês ou um oceano. Foi descolorindo o céu, imenso, que de um azul desconcertante morreu em um púrpuro murmúrio gritando a noite. Beijando as estrelas que por cortesia vieram se despedir, os apaixonados embalados pela lua ainda faziam juras e pediam testemunha ao infinito. Ela estava distante, era tão itinerante, mas ele sempre soube que nunca foi um engano e que. de todos os amores, esse era o mais bonito.
Foram adiadas todas as cores que brincavam naquela estação. Atrasaram-se os trens. Tudo que estava de partida se partiu ao meio e a hora marcada mais parecia ironia de um destino desfeito. E tudo que foi semeado ficou na espera de ver acordar o calor. O amor era ela e ela era a primavera dos meus olhos, era meu néctar, meu sabor.
Os aromas que sutilmente fugiam entre as brisas brincalhonas, e os beijos embalados por toda aquela cor, tudo ali era questão de tempo, de entendimento que apesar de todo questionamento tinha seu momento de chegar.
E era meu beijo que solto pelo ar cruzava mares através do vento, levava meu chamado de saudade de alguém que sinto e não posso tocar.
Foi o imprevisto que veio pra dar incremento e mesmo assim não impedia o rio continuar correndo pro mar.
Toda a gama, os nuances e degrades aos poucos acinzentavam a esperança. Anoiteciam os sonhos e acordavam os minutos teimosos a não passar.
Passeando tanto tempo pela minha lembrança, ela corria como criança pedindo para brincar.
Ao amor que a vida jogou pra frente, fechei os olhos e joguei minha emoção.
Ela é o ano inteiro, é toda e qualquer estação. É o inteiro do meu meio, é metade do meu coração.
Ah, se eu pudesse ver voltar minha primavera!

* ESSA É PRA VC NINA! FORÇA CAROLINA!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta"

Clarice Lispector

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Encerrando ciclos

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos, não importa o nome que damos. O que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo
se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã... Todos estarão encerrando capítulos, virando a folha,
seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos,
adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem
noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa,
dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas.
Portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio,
que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa,
que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando
e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego
que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa... Nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba. Mas porque simplesmente
aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Paulo Coelho

quinta-feira, 1 de julho de 2010


Chegamos em casa amor. 
Habitamos por tanto tempo entre paredes vazias de frias memórias e um desejo intenso de nos encontrar, e nos encontramos em sonhos perdidos e em esperanças loucas, pois assim era a vida antes de entrarmos nesse lar... Passeamos de bar em bar, de rosto em rosto, saboreando outros gostos, mas nada se compara ao seu olhar, nada me toca mais que teus sons em tons de riso, teus braços a me moldar... 
Chegando em casa amor, te encontrei. Tão desconhecido e tão familiar. Sentado à mesa, me esperando para conversar, cabeça baixa olhar perdido, solidão vazia, cheia de saudades e desejo...
 Estivemos perdidos pelos anos, pelo sabor de enganos, sensação de impotência diante ao destino,que, parecendo ainda ser um menino resolveu brincar de nos esconder, e separados vivemos até minha alma habitar a sua e dela fazer moradia, nela meu espirito habitar... Esta é a casa a qual chamo lar...
  E o desejo que parecia tão distante se desmancha diante de nossos sonhos, cobrindo de lágrimas sorridentes a historia escrita como roteiro de romance, tão inacreditável na impossibilidade, especialmente improvável , mas escrevendo lentamente em cada pedaço seu todo o meu inconsciente, e toda minha coincidência de  te sonhar, na minha loucura de te amar e saciar a falta que senti na ausência que tua presença fez longe de mim...
 Chegamos na casa do amor. 
Aahh ela parecia ser feita de areia antes dessa tamanha força pura nos invadir. Ela fingia ser amiga, quando na verdade era uma inimiga mansa mascarada de verdade... Antes de ti tudo era mentira, era tudo vaidade. uma inverdade crua que me preenchia de sonhos inacabados, e fazia a morada fria, a vida fingida... 
 Antes de ti minhas casas foram baralhos embaralhados no meu coração que faziam colunas, paredes e pilares, mas que num sopro mais forte se revelou tão frágil, vulnerável, pequeno...foi-se ao chão, e nada era seguro, nem amor vivido e sentimento maduro, casas de cartas, cartas marcadas, vidas perdidas... 
 As casas de antes eram habitadas pelo eco, por inquietos suspiros que te procuravam, que buscavam seu peito para descobrir abrigo. E por fim, em casa chegamos, e juntos, somente juntos, habitamos a maior verdade interior que corre nas veias e pulsa no fluxo da vida. Em você encontrei morada... 
Que brinca leve, na leveza inocente de amar o amor, de levar seu nome no meu, de estar perto e mais, de estar dentro. Abro todas as portas, mas fecho as janelas pro vento não nos arrastar. Abro as páginas sem versos e dedico-me aos poucos às suas letras, seus verbos, rimas inesperadas que acariciam vagarosamente uma história que constrói minha identidade. E me faço dia à dia, percorrendo sua geografía para encontrar o meu caminho... E fiz festa ao te encontrar, revivi minha alegria simplesmente em te amar... 
Sou metade sem sua moradia, sou covarde no meio dessa ironia e invento coragem todo dia que não o vejo...
E se te achei, me achei junto e seguimos então no nosso eterno gerúndio de ser capaz de vestir o sentimento de cores quentes, pinta-lo cada dia diferente, compor uma canção através do tempo para imortalizar esse momento onde habita-me com sua alma e vivo em ti, na sua calma esperança, na nossa generosa semelhança , entre as paredes do seu sorriso, que levo, trancado a sete chaves, no meu rosto, e me perco só de pensar no seu gosto, e te chamo de meu amor, de meu lar... 
Hoje celebraremos o encontro e a vida... Ponha seu terno novo, vou polir a prataria... Quero a casa ilumida, minha pele arrepiada ao encontar teus olhos, vou sentir a alegria de te amar noite e dia nesse nosso lindo canto... Te serei eternamente companheira complacente e amante apaixonada!... Beberei na tua fonte, matarei a tua fome e para sempre vou te amar... Novamente eu abro as portas para a felicidade entrar e invadir o nosso lar!...  
Celso Leal e Lilian Vereza

quinta-feira, 24 de junho de 2010

( Para quien me enseño que cuando si queire de verdad NADA ni NADIE DETIENE EL SENTIMIENTO)

Nas gavetas da velha cômoda!!!

Todo dia eu acordo e me separo de você. Levanto, guardo os sonhos na gaveta da velha cômoda e troco o pijama. Saio de casa em rotineira condição. Reparo em minha própria sombra no chão e sinto falta da outra que sempre esteve ali ao lado. Como distrair o pensamento de algo que se quer pensar, mas não se deve? Como amordaçar o que se sente para não mais sentir? Não sei. 

Todo dia eu acordo e me separo de você. Sigo meu caminho e busco outros prazeres. Preencho as lacunas de pensamento com chocolate e televisão. Troco os móveis de lugar para que nada me lembre o que eu não devo lembrar. E diante do espelho me convenço de que tudo isso é essencial. Chega uma hora, na vida, que temos que adotar certas medidas de segurança. É quando percebemos que só nós podemos nos salvar. Então, fica combinado assim: eu me salvo e você se salva. E a gente se vê qualquer dia. No último instante da história ou, quem sabe, nunca. Só em sonhos. Daqueles que guardamos nas gavetas da velha cômoda.

Todo dia eu acordo e me separo de você. Pago contas, anoto recados, vou ao cinema, pego transito e pareço seguir em frente. Me separo de você e de tudo o que eu não quero mais viver. E encerro qualquer possibilidade de diálogo que possa nos fazer voltar atrás. Pois o tempo não se curva. E já não somos mais os mesmos. Faz tempo.

E todo dia eu acordo de me separo de você mais um pouco...enquanto passam os anos...nove, dez...o tempo sorri do meu esforço diário. E já não tenho notícias suas. E já não sei o que dizer quando me perguntam """"e fulano que fim levou?"""". E percebo que aprendi a adestrar os pensamentos e lidar com as mordaças adequadas aos arredios sentimentos.

E assim, todo dia eu acordo e me separo de você de novo. E preencho mais gavetas, com mais sonhos improváveis. Porque chega uma hora, na vida, que temos que adotar certas medidas de segurança. E ando pelas ruas somente com a minha sombra e tudo parece estar no seu lugar. Pareço seguir em frente. E, assim, vou me separando de você, em frações de tempo, todo dia de manhã quando acordo.

O problema é que toda noite eu adormeço e me caso com você de novo. 



Texto de Maira Vianna

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ANJO




"O problema com o homem moderno é que esquecemos a linguagem do silêncio, esquecemos o caminho do coração.  Esquecemos completamente que há uma vida que pode ser vivida por meio do coração.
 Somos muitos presos à cabeça, e porque estamos demais na cabeça não fazemos qualquer sentido na expressão do amor."


"Não tente possuir a vida — isso é o que o ego tenta fazer.
Não tente agarrá-la, permita ser possuído por ela. Seja subjugado por ela, seja inundado por ela.
 E você saberá tão profundamente que nunca poderá dizer "eu sei". Você saberá tão intimamente que não poderá reduzi-la a conhecimento.
 Apenas coisas superficiais podem ser reduzidas a conhecimento. Quanto mais profunda é uma verdade, mais difícil é reduzi-la a conhecimento. O conhecimento parece tão pálido, e a verdade está tão viva.
O conhecimento é descorado, insensível, e a verdade é a batida do coração, a circulação do sangue, a respiração do ar, o amor, a dança."
Osho

quarta-feira, 16 de junho de 2010


"Cuando tú apareciste, penaba yo en la entraña más profunda de una cueva sin aire y sin salida. Braceaba en lo oscuro, agonizando, oyendo un estertor que aleteaba como el latir de un ave imperceptible. Sobre mí derramaste tus cabellos y ascendí al sol y vi que eran la aurora cubriendo un alto mar de primavera. Fue como si llegara al más hermoso puerto del mediodía. Se anegaban en ti los más lucidos paisajes: claros, agudos montes coronados de nieve rosa, fuentes escondidas en el rizado umbroso de los bosques. Yo aprendí a descansar sobre tus hombros y a descender por ríos y laderas, a entrelazarme en las tendidas ramas y a hacer del sueño mi más dulce muerte. Arcos me abriste y mis floridos años, recién subidos a la luz, yacieron bajo el amor de tu apretada sombra, sacando el corazón al viento libre y ajustándolo al verde son del tuyo. Ya iba a dormir, ya a despertar sabiendoque no penaba en una cueva oscura, braceando sin aire y sin salida. Porque habías al fin aparecido."
(Rafael Alberti)

escutando "Pleamar" seguindo de "Amor dulce muerte" de Vicante Amigo.....Por Dios!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

SEUS OLHOS ( Preto e branco)

Um dia encontrou meus olhos, afundou em minha alma, me descobriu em você.
Nesse dia cruzei mares, matei inimigos, viajei no tempo, toquei o horizonte.
Foi o dia em que sua fome de me saber me revelou seus mistérios, palavras secretas, sentimentos encobertos por neblina, somente esperando uma brecha de raio de sol para inundar seus olhos de luz.
Ah, seus olhos!
Me prendi neles e perdi minhas pernas através do azul de seus braços.
Azul.
Igual aquele infinito que franzimos a testa para tentar descobrir onde começa o mar e acaba o céu.
Ali mesmo onde misturados estavam meus braços afogados no azul do seu abraço infinito.
Toca-me tão sutilmente com a fúria de um vulcão adormecido. Desperta a ira dos Deuses, o sono dos imortais, os olhos dos cegos.
Nesse dia fomos o pão, o vinho, a hóstia sagrada. Letras abraçadas que com um sopro dos anjos ganhou forma plena. O dia em que seus olhos pequenos me fizeram uma visita. Olhos de avelãs, sedentos, curiosos. E sua boca inundada de palavras serenas esculpia cada minuto em mármore raro.Nesse dia, matamos a fome do prisioneiro, roubamos suspiros da lua e colecionamos o brilho das estrelas no olhar.
O dia em que frio e quente afundaram nossos pés na areia do deserto da vida.
O dia em que te vi, te vivi, te senti chegar.
Não pertenço ao mundo de regras e ilusões. Sou do hoje, do momento, filha das flores e irmã do vento.
Quero levar você comigo pequeno. Vem?
Onde meus pés não alcançam, onde silhuetas cintilantes dançam, onde você vive, onde seu rosto me é familiar.

sexta-feira, 11 de junho de 2010


Mosaico

Passo a vagar por mim, entre os ecos do pensamento
Tudo aqui é tão extenso que não me cabe
e embora acabe meu tempo
Dou-me o direito de simplesmente existir.
Foi nesse sopro de verdade entre minhas pálpebras que descobri seu rosto
Foi nesse vácuo do sentir, cólera de meus sonhos, incertos, quietos e ocultos
Que rompi as fronteiras de ser
simplesmente fui
E sou, não me bastando na imensidão de meus dois olhos curiosos
Passo vagarosamente pela inspiração, entre soluços e sílabas
Estilhaços de momentos que em um grande mosaico compõem meu verso
Construí frases sem sentido, sem memória, sem cerimônia
Que, sem-vergonha, invadiram minhas sensações cantando vitória,
fazendo um conto, narrando a minha situação.
Ora, simplesmente fui
E serei o suficiente para não caber-me mais
Desperdiçando as horas que acreditam ser eternas
Serei
a companhia do acaso teimoso em ser destino
a certeza de que se fui, fostes
e se serei, serás.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"Eu sei e você sabe 
Já que a vida quis assim 
Que nada nesse mundo levará você de mim 
Eu sei e você sabe 
Que a distância não existe 
Que todo grande amor 
Só é bem grande se for triste 
Por isso meu amor 
Não tenha medo de sofrer 
Que todos os caminhos 
Me encaminham a você . 
Assim como o Oceano, só é belo com o luar 
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar 
Assim como uma nuvem, só acontece se chover 
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer 
Assim como viver sem ter amor, não é viver 
Não há você sem mim 
E eu não existo sem você!"










"Dejaré que muera en mí el deseo
de amar tus ojos dulces,
porque nada te podré dar sino la pena
de verme eternamente exhausto.
No obstante, tu presencia es algo
como la luz y la vida.
Siento que en mi gesto está tu gesto
y en mi voz tu voz.
No quiero tenerte porque en mi ser
todo estará terminado.
Sólo quiero que surjas en mí
como la fe en los desesperados,
para que yo pueda llevar una gota de rocío
en esta tierra maldita
que se quedó en mi carne
como un estigma del pasado.
Me quedaré... tu te irás,
apoyarás tu rostro en otro rostro,
tus dedos enlazarán otros dedos
y  te desplegarás en la madrugada,
pero no sabrás que fui yo quien te logró,
porque yo fui el amigo más íntimo de la noche,
porque apoyé mi rostro en el rostro de la noche
y escuché tus palabras amorosas,
porque mis dedos enlazaron los dedos
en la niebla suspendidos en el espacio
y acerqué a mí la misteriosa esencia
de tu abandono desordenado.
Me quedaré solo como los veleros
en los puertos silenciosos.
Pero te poseeré más que nadie
porque podré irme
y todos los lamentos del mar,
del viento, del cielo, de las aves,
de las estrellas, serán tu voz presente,
tu voz ausente, tu voz sosegada."



Vinicíus de moraes