segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta"

Clarice Lispector

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Encerrando ciclos

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos, não importa o nome que damos. O que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo
se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã... Todos estarão encerrando capítulos, virando a folha,
seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos,
adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem
noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa,
dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas.
Portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio,
que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa,
que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando
e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego
que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa... Nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba. Mas porque simplesmente
aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Paulo Coelho

quinta-feira, 1 de julho de 2010


Chegamos em casa amor. 
Habitamos por tanto tempo entre paredes vazias de frias memórias e um desejo intenso de nos encontrar, e nos encontramos em sonhos perdidos e em esperanças loucas, pois assim era a vida antes de entrarmos nesse lar... Passeamos de bar em bar, de rosto em rosto, saboreando outros gostos, mas nada se compara ao seu olhar, nada me toca mais que teus sons em tons de riso, teus braços a me moldar... 
Chegando em casa amor, te encontrei. Tão desconhecido e tão familiar. Sentado à mesa, me esperando para conversar, cabeça baixa olhar perdido, solidão vazia, cheia de saudades e desejo...
 Estivemos perdidos pelos anos, pelo sabor de enganos, sensação de impotência diante ao destino,que, parecendo ainda ser um menino resolveu brincar de nos esconder, e separados vivemos até minha alma habitar a sua e dela fazer moradia, nela meu espirito habitar... Esta é a casa a qual chamo lar...
  E o desejo que parecia tão distante se desmancha diante de nossos sonhos, cobrindo de lágrimas sorridentes a historia escrita como roteiro de romance, tão inacreditável na impossibilidade, especialmente improvável , mas escrevendo lentamente em cada pedaço seu todo o meu inconsciente, e toda minha coincidência de  te sonhar, na minha loucura de te amar e saciar a falta que senti na ausência que tua presença fez longe de mim...
 Chegamos na casa do amor. 
Aahh ela parecia ser feita de areia antes dessa tamanha força pura nos invadir. Ela fingia ser amiga, quando na verdade era uma inimiga mansa mascarada de verdade... Antes de ti tudo era mentira, era tudo vaidade. uma inverdade crua que me preenchia de sonhos inacabados, e fazia a morada fria, a vida fingida... 
 Antes de ti minhas casas foram baralhos embaralhados no meu coração que faziam colunas, paredes e pilares, mas que num sopro mais forte se revelou tão frágil, vulnerável, pequeno...foi-se ao chão, e nada era seguro, nem amor vivido e sentimento maduro, casas de cartas, cartas marcadas, vidas perdidas... 
 As casas de antes eram habitadas pelo eco, por inquietos suspiros que te procuravam, que buscavam seu peito para descobrir abrigo. E por fim, em casa chegamos, e juntos, somente juntos, habitamos a maior verdade interior que corre nas veias e pulsa no fluxo da vida. Em você encontrei morada... 
Que brinca leve, na leveza inocente de amar o amor, de levar seu nome no meu, de estar perto e mais, de estar dentro. Abro todas as portas, mas fecho as janelas pro vento não nos arrastar. Abro as páginas sem versos e dedico-me aos poucos às suas letras, seus verbos, rimas inesperadas que acariciam vagarosamente uma história que constrói minha identidade. E me faço dia à dia, percorrendo sua geografía para encontrar o meu caminho... E fiz festa ao te encontrar, revivi minha alegria simplesmente em te amar... 
Sou metade sem sua moradia, sou covarde no meio dessa ironia e invento coragem todo dia que não o vejo...
E se te achei, me achei junto e seguimos então no nosso eterno gerúndio de ser capaz de vestir o sentimento de cores quentes, pinta-lo cada dia diferente, compor uma canção através do tempo para imortalizar esse momento onde habita-me com sua alma e vivo em ti, na sua calma esperança, na nossa generosa semelhança , entre as paredes do seu sorriso, que levo, trancado a sete chaves, no meu rosto, e me perco só de pensar no seu gosto, e te chamo de meu amor, de meu lar... 
Hoje celebraremos o encontro e a vida... Ponha seu terno novo, vou polir a prataria... Quero a casa ilumida, minha pele arrepiada ao encontar teus olhos, vou sentir a alegria de te amar noite e dia nesse nosso lindo canto... Te serei eternamente companheira complacente e amante apaixonada!... Beberei na tua fonte, matarei a tua fome e para sempre vou te amar... Novamente eu abro as portas para a felicidade entrar e invadir o nosso lar!...  
Celso Leal e Lilian Vereza