terça-feira, 26 de junho de 2012


A corda do violão se rompeu.A música parou. O sol pôs o horizonte tão longe que escureceu o dia, o entardecer desbotou. O desenho à traço e preto e branco foi colorido até a metade. Os sonhos foram suspensos. Os suspiros interrompidos. Faltou ar na respiração do destino. A hora pede esmola ao acaso. O caso de amor virou estrela (de)cadente, fez-se o pedido, cruzou os dedos da esperança, mas caiu. O desejo de criança se resumiu a um de repente quase inconsequente, que brincou de ser felicidade.
A pessoa triste é esquecida, não tem idade. A pessoa triste só é querida pela a solidão. A pessoa triste só te serve quando sorri. O "nós" virou só um. O um, virou um pó. O pó foi arrastado ao vento e jogado ao mar, e as vezes, afogados na tristeza das ondas, volta a me buscar,querendo tocar de novo a mesma música, aquela que esqueci a letra, mas ainda sei murmurar.

domingo, 24 de junho de 2012



"A paixão, o encanto, é a ausência de palavras, é a vida revestida de silêncio e transbordando insinuações. O amor sobrevive no mistério, no desvelamento cotidiano que nunca chega à plenitude, porque tudo o que já está pleno, já está pronto. 
O amor só é amor porque é inacabado, é metade que chama, implora e pede clemência. Amar é uma interessante e bonita forma de carecer, de ser fraco, de entregar os pontos, de viver sem armas, como se por um instante, só por um instante, a luta que marca a nossa sobrevivência tivesse entrado em estado de trégua.
O encanto que sobrevive no amor só pode durar enquanto se estenderem os segredos que sacralizam a relação. E por isso é necessário retirar as sandálias dos pés, pisar com leveza, olhar com cuidado. O amor é amigo do silêncio. Sobrevive no querer dizer, na tentativa frustada de verbalizar o que é a crença da alma, o sustento do espírito.
A saudade é benéfica ao amor. Distantes, os amantes mensuram o tamanho do bem-querer. Medida que se descobre nos desconcertos da ausência, no engasgo constante da recordação, recurso que faz voltar no tempo, engana as horas, aproxima as peles, diminui as estradas, ancora os navios, pousa os aviões, faz chegar os ausentes." 

autor desconhecido



quinta-feira, 14 de junho de 2012


Perdoa-me pelas desilusões que te causei.
E agradece-me pelos sonhos que despertei em ti; pois as desilusões não brotam senão onde antes floresciam os sonhos. Como no tempo se alternam os dias e as noites, alternam-se na vida os bons e os maus momentos.  E, assim, nada é o que parece ser.  Pois mesmo na tristeza da despedida existe uma oculta alegria, que é a esperança do reencontro.  E é no amargor da saudade que se oculta a doçura das lembranças.
Se em todo caso de amor existe alguém que mais ama, a esse será reservado o quinhão maior do sofrimento da separação. E é justo que assim seja, por lhe ter cabido a porção maior de felicidade.
Parte, se assim o desejas.  Pois nada me tomas, senão aquilo que me deste; e, por isto, de direito te pertence. Deixa, apenas, que eu te olhe mais uma vez.
Para que a tua imagem se entrone no altar da minha saudade. Pois não são os teus olhos que pretendo guardar, mas a luz do teu olhar.
Assim como não são os teus lábios que desejo reter, mas o sabor dos teus beijos. 
E não é do teu corpo que preciso, mas do calor do teu amor.  Pois o amor não é como a paixão, que se nutre do que se pode ver, mas como a religião, que se alimenta do que se pode sentir. Conforta-me o saber que não nos deixamos por desamor, mas por não entendermos o Amor.  
Sigamos, pois; e, seguindo, conservemos as lembranças do que houve entre nós.
Para que, mais sábios e menos egoístas, saibamos reconhecer a face do Amor, e conservá-lo em nossa companhia.
Se voltarmos a encontrá-lo em nossos caminhos.

Gibran Khalil Gibran