quarta-feira, 22 de setembro de 2010

..há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio,sou mais do que eu, quase normalmente - tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuaçãode meu começo......a única verdade é que vivo.Sinceramente, eu vivo.Quem sou? Bem, isso já é demais..."Clarice Lispector


 ‎"Quando te vi amei-te já muito antes:Tornei a achar-te quando te encontrei. Nasci para ti antes de haver o mundo.Não há coisa feliz ou hora alegre que eu tenha tido pela vida afora, que o não fosse porque te previa... "Fernando Pessoa


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

asas silenciosas


Vivo entre a linha tenue que separa a loucura da sanidade. Minhas doses de loucura e meus surtos de lucidez são vozes que brigam constantemente em meu ombro, sussurrando no meu ouvido solução. Adormeci durante anos minha ansia de fazer-me eu. Entreguei-me à armadilha do descontentamento viciado de estar presa a uma situação. Fui incoerente na minha decisão. Amarrei-me à beira da cama, deitando meus sonhos, enterrando pedaços de esperança mofada que ainda lutavam em resistir dentro do meu existir. Deixei de insistir. E por muitas vezes, abandonada de todas minhas crenças, matei os suspiros e assassinei minha inspiração. Prostitui minha essência, numa tentativa mórbida de desistência anunciada. Meu cheiro era de terra molhada pela furia do céu e em meus olhos o amanha desviava meu curso numa tempestade de desilusão.
Descobri, mergulhando nas profundezas do meu ser, que navegar-nos é preciso. Que somente explorando nossos mais íntimos anseios e necessidades ganhamos o poder de simplesmente existir da forma mais plena, serena, cheia. E para receber-te, antes necessitava chegar em mim. Mergulhei em cada pedaço de minha alma, numa busca incessante e numa sede interminável de decifrar meu nome.
Enfim, achei-me.
Achei-me em meia parte, resolvendo metade do que meu olhar incansavelmente ainda procurava achar. Reconstruí-me totalmente quando o vi caminhando em minha direção. Lentamente ele foi chamando minha atenção, roubando-me a cada verso numa gloriosa sensação de milagre. O meu sagrado começava a tomar forma, ja tinha som e gosto. E ao contrario do proposto pelo destino, nosso encontro teve um rosto muito definido. O rosto em forma de sorrisos que me ressuscitaram de todas as angustias que ja dominavam minha vida. Pelo rosto do tempo que andava perdido, brincando de ladrão, de roubar meu sentimento, de violentar minha intenção de ser feito de nuvens, de conto de fadas, de encantamento.
Fiz-me por inteiro quando cheguei a mim deixando-te invadir-me totalmente de maneira furiosa e doce. E todo meu sentimento de ser a bailarina da caixinha e musica que andava guardada cheia de poeira se transformou no infinito instante que meu olhar tocou seus labios, que seus labios tocaram meu coração. E cresci me enchi novamente com o tocar da musica que lentamente me convidava a dançar. Por suas mãos extendidas entendi o quanto te esperei. Por seu olhar cativante renasci minha paz, antes tao itinerante. Por seu abraço compreendi o significado da palavra doação. Pelo seu dom de iluminar vidas e dançar amor, enchi meu peito de inspiração. Respirei cada parte da sua arte, transformando-me em gotas que necessitavam transpirar-te para possuir-me outra vez. Faço de ti asas silenciosas que me convidaram a um passeio infinito em meu ser. Faço de ti meu amor além meu amado, meu milagre, minha salvação.

domingo, 5 de setembro de 2010

conspiração | inspiração...



http://www.youtube.com/watch?v=8TaFmlQxzLU

"Devo compararte a um dia de verão?
És por certo mais bela e mais amena
O vento em maio sacode as flores em botão
E a época do verão é bem pequena.

As vezes em calor e brilho o Sol se excede
Mas até o brilho do sol perde a beleza
E todo belo da beleza um dia se despede
Por acaso ou pelo curso das leis da natureza.

Mas teu eterno verão não vai findar
E a beleza que tens não perderás
Nem de ofuscar-te a morte pode ser gabar

Pois nesta estrofe eterna com o tempo crescerás.
Enquanto o homem respirar ou olhos possam ver
Meus versos vão durar e te farão viver."


William Shakespeare - soneto 18