sábado, 12 de dezembro de 2009

"De vez em quando é necessário a gente se perguntar se dentro de nós é um bom
lugar para se viver. Depois de ler Maria Rezende eu tenho me perguntado isso.
E a resposta sem nenhum charme intelectual, sem nenhuma espécie de autoaversão,
sem nenhuma inclinação underground, ou seja, da forma mais simplória, é que sim,
eu sou um bom lugar para se viver.

Dentro de mim há pensamentos demais, o que torna tudo meio apertado, mas tenho
tentado dar uma arrumada nessas idéias para que cada uma fique na sua gaveta.
Há também sentimentos demais, mas de forma alguma vou expulsá-los, deixo que
circulem à vontade pelo meu corpo. Dentro de mim as estações são bem definidas:
verão é verão, inverno é inverno. Toca música aqui dentro quase o tempo todo, e
há uma satisfação secreta que precisa se manter secreta para não passar por boba.
Há crianças e adultos dentro de mim, todos da mesma idade. Aqui dentro existe uma
praia e uma montanha coladas uma na outra, parece até Rio de Janeiro, só que os
tiroteios são raros. O último bangue-bangue emocional que metralhou minha alma faz
quase um ano. Dentro de mim estão muitas lágrimas que não foram choradas pra fora
e muitos sorrisos que, de tão íntimos, também guardei. Dentro de mim, às vezes,
são produzidas algumas cenas sofisticadas e roteiros de filme B. Como não gostar
de viver aqui dentro?
E você, tem sido um bom hospedeiro de si mesmo?"

Martha Medeiros

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