sexta-feira, 17 de setembro de 2010

asas silenciosas


Vivo entre a linha tenue que separa a loucura da sanidade. Minhas doses de loucura e meus surtos de lucidez são vozes que brigam constantemente em meu ombro, sussurrando no meu ouvido solução. Adormeci durante anos minha ansia de fazer-me eu. Entreguei-me à armadilha do descontentamento viciado de estar presa a uma situação. Fui incoerente na minha decisão. Amarrei-me à beira da cama, deitando meus sonhos, enterrando pedaços de esperança mofada que ainda lutavam em resistir dentro do meu existir. Deixei de insistir. E por muitas vezes, abandonada de todas minhas crenças, matei os suspiros e assassinei minha inspiração. Prostitui minha essência, numa tentativa mórbida de desistência anunciada. Meu cheiro era de terra molhada pela furia do céu e em meus olhos o amanha desviava meu curso numa tempestade de desilusão.
Descobri, mergulhando nas profundezas do meu ser, que navegar-nos é preciso. Que somente explorando nossos mais íntimos anseios e necessidades ganhamos o poder de simplesmente existir da forma mais plena, serena, cheia. E para receber-te, antes necessitava chegar em mim. Mergulhei em cada pedaço de minha alma, numa busca incessante e numa sede interminável de decifrar meu nome.
Enfim, achei-me.
Achei-me em meia parte, resolvendo metade do que meu olhar incansavelmente ainda procurava achar. Reconstruí-me totalmente quando o vi caminhando em minha direção. Lentamente ele foi chamando minha atenção, roubando-me a cada verso numa gloriosa sensação de milagre. O meu sagrado começava a tomar forma, ja tinha som e gosto. E ao contrario do proposto pelo destino, nosso encontro teve um rosto muito definido. O rosto em forma de sorrisos que me ressuscitaram de todas as angustias que ja dominavam minha vida. Pelo rosto do tempo que andava perdido, brincando de ladrão, de roubar meu sentimento, de violentar minha intenção de ser feito de nuvens, de conto de fadas, de encantamento.
Fiz-me por inteiro quando cheguei a mim deixando-te invadir-me totalmente de maneira furiosa e doce. E todo meu sentimento de ser a bailarina da caixinha e musica que andava guardada cheia de poeira se transformou no infinito instante que meu olhar tocou seus labios, que seus labios tocaram meu coração. E cresci me enchi novamente com o tocar da musica que lentamente me convidava a dançar. Por suas mãos extendidas entendi o quanto te esperei. Por seu olhar cativante renasci minha paz, antes tao itinerante. Por seu abraço compreendi o significado da palavra doação. Pelo seu dom de iluminar vidas e dançar amor, enchi meu peito de inspiração. Respirei cada parte da sua arte, transformando-me em gotas que necessitavam transpirar-te para possuir-me outra vez. Faço de ti asas silenciosas que me convidaram a um passeio infinito em meu ser. Faço de ti meu amor além meu amado, meu milagre, minha salvação.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Espalhei minhas asas em teu corpo. Com a delicadeza das penas que conduzem os sonhos, lhe trouxe tempestade. Em meio ao silêncio, ouviste trovão. Ao lhe envolver, derramei sobre tua pele meu suor. Como um visgo, um beijo nos prendeu.
Siga comigo, no caminho dos sonhos. Prometo em ti, depositar a semente do meu amor. Com ela, germinaremos mais amor. Pois um dia, diante de um paraíso estaremos. E como cúmplices, testemunharemos o nascimento da mais bela alma. Alma de nossas almas. Luz que deve ser contemplada.