quinta-feira, 14 de junho de 2012


Perdoa-me pelas desilusões que te causei.
E agradece-me pelos sonhos que despertei em ti; pois as desilusões não brotam senão onde antes floresciam os sonhos. Como no tempo se alternam os dias e as noites, alternam-se na vida os bons e os maus momentos.  E, assim, nada é o que parece ser.  Pois mesmo na tristeza da despedida existe uma oculta alegria, que é a esperança do reencontro.  E é no amargor da saudade que se oculta a doçura das lembranças.
Se em todo caso de amor existe alguém que mais ama, a esse será reservado o quinhão maior do sofrimento da separação. E é justo que assim seja, por lhe ter cabido a porção maior de felicidade.
Parte, se assim o desejas.  Pois nada me tomas, senão aquilo que me deste; e, por isto, de direito te pertence. Deixa, apenas, que eu te olhe mais uma vez.
Para que a tua imagem se entrone no altar da minha saudade. Pois não são os teus olhos que pretendo guardar, mas a luz do teu olhar.
Assim como não são os teus lábios que desejo reter, mas o sabor dos teus beijos. 
E não é do teu corpo que preciso, mas do calor do teu amor.  Pois o amor não é como a paixão, que se nutre do que se pode ver, mas como a religião, que se alimenta do que se pode sentir. Conforta-me o saber que não nos deixamos por desamor, mas por não entendermos o Amor.  
Sigamos, pois; e, seguindo, conservemos as lembranças do que houve entre nós.
Para que, mais sábios e menos egoístas, saibamos reconhecer a face do Amor, e conservá-lo em nossa companhia.
Se voltarmos a encontrá-lo em nossos caminhos.

Gibran Khalil Gibran

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